Bem Vindos

Como membro da Associação Independente para o Desenvolvimento Integrado de Alpiarça e em nome de todos os seus membros, desejo-vos uma boa leitura. Sugiro para quem não conhece o movimento que passe pelo tópico - APRESENTAÇÃO DA A.I.D.I.A. - para que melhor possam compreender este movimento cultural.

Com este blogue esperamos proporcionar informação à altura dos seus leitores e, principalmente, uma zona de debate onde todos podem participar.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O NOSSO PATRIMÓNIO [A NOSSA IDENTIDADE]

A manhã é tipicamente outonal. São pouco mais de oito e meia de um domingo e, apesar do Sol já ter descoberto, os campos ainda estão cobertos de orvalho.

Em locais onde os raios solares incidem, a temperatura é amena. Já o mesmo não se poderá dizer à sombra dos salgueiros, onde uma brisa sopra. E é aí, a bordejá-los, que António Silva, de barco, vai colocar as redes, os botirões, um género de nassa ou narsa, mas de maiores dimensões.

Sozinho, a tarefa nem sempre parece fácil, tanto mais que no último alevantar das redes o Tejo ia com muito mais água e, por via disso, aquelas ficaram penduradas lá no alto das ramagens dos salgueiros.

Agora, é preciso algum malabarismo para, empoleirado no bordo do barco, as alcançar e colocar novamente na água.

Mas a experiência de mais de meio século nestas labutas torna fácil o que a nós nos pareceria difícil.

Habilidade também é necessária para espetar (com a força dos braços e a ajuda de pedras colocadas estrategicamente em vários pontos da draga) no fundo do rio as varas (rabeiras) onde serão enfiados e fixados os botirões.

Mais à frente, há que consertar o arco do salgueiro partido ou substituir o canudo de sabugo que une aquele.

Com o tempo a não haver meio de aquecer, vêm à memória outros tempos, onde mesmo em dias de geada, se andava descalço dentro do barco e pelos campos.

“Os pés já andavam calejados, já nem sentiam o frio. As primeiras botas que pus nos pés, tinha eu 17 anos, andava em frente da Boavista [quinta situada do lado lá do Tejo, já no concelho de Santarém, quase defronte ao Patacão de Baixo], a meter maracha por conta da Hidráulica. Ia todos os dias, antes de nascer o Sol, daqui, do Patacão, a pé, a pisar gelo. Andávamos a ganhar 25 escudos. Era só miséria, mas nessa altura um fulano vivia mais tranquilo, mais alegre que vive agora”.

E lá ia deslizando o barco nas águas tranquilas do Tejo, com a ajuda da vara manejada por António [Jerónimo] Silva, um dos poucos pescadores que ainda anda nesta faina.

Quanto ao peixe, na próxima terça-feira algum haverá de estar nas redes para, no dia seguinte, a Dª Maria, sua esposa, o ir vender à praça de Alpiarça. Episódios do nosso mais importante património, o humano.



Ricardo Hipólito



PORTFÓLIO FOTOGRÁFICO

(António Jerónimo da Silva, último Avieiro do Patacão, em Alpiarça)






Autor: Ricardo Hipólito


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